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um Pierrot sem maestro e o Schallfeld em Aveiro

©André Delhaye / Fundação de Serralves, Fevereiro 2024

A temporada de 2024/25 da Arte no Tempo começa com um projecto que assinala o 150º aniversário do nascimento de um compositor que influenciou, directa ou indirectamente, a maioria dos compositores que vieram a seguir a ele. Falamos do austríaco Arnold Schönberg (Viena, 13. Setembro. 1874 – Los Angeles, 13. Julho. 1951), mentor do grupo que ficou conhecido por Segunda Escola de Viena.

Para que o ars ad hoc se lançasse na preparação do Pierrot Lunaire, op. 21 [1912], era preciso encontrarmos uma cantora à altura do desafio, com nível artístico e empenho similar ao dos músicos do grupo. Em boa hora a soprano Sarah Maria Sun recomendou uma cantora portuguesa que com ela havia trabalhado e que já havia trabalhado a referida obra em profundidade. Ana Caseiro aceitou o desafio e o entusiasmo perante o projecto não parou de crescer. Se interpretar um clássico do modernismo é, por si só, um desafio, experimentar erguer o intrincado contraponto de Pierrot Lunaire op. 21 sem a segurança de um maestro eleva o desafio para outro patamar. Mas o ars ad hoc tem por hábito trabalhar sem maestro e nesta obra não poderia também fazê-lo de outra maneira. O trabalho torna-se mais exigente, mais minucioso; mas não é essa mesma a essência da música de câmara?

Com a criação de Pierrot Lunaire op. 21, para voz e quinteto instrumental, Schönberg estabelece definitivamente não só o sprechgesang, mas também uma formação, desde então designada ‘quinteto pierrot’ (flauta, clarinete, violino/viola, violoncelo e piano), cuja literatura não parará de crescer até aos nossos dias. Partindo de um desafio da actriz Albertine Zehme, os três conjuntos de sete melodramas fazem uso da tradução alemã da obra homónima de Albert Giraud (1860 – 1929), experimentando, nas diferentes combinações tímbricas disponíveis e num sofisticado contraponto, a máxima diversidade com a maior economia de meios.

A primeira apresentação será já no próximo domingo, 29 de Setembro (16h00), na Academia Internacional de Marvão para a Música, Artes e Ciências – um concerto de entrada livre no âmbito do ciclo de concertos que o ars ad hoc realiza com o apoio do Banco BPI | Fundação ‘la Caixa’, para além do da Direcção-Geral das Artes. A abrir o concerto, ouvir-se-á ainda uma versão para quinteto pierrot do belga Tim Mulleman de outro grande clássico, para orquestra, de Claude Debussy (1862-1918): falamos de Prélude à l’après-midi d’un faune [1894].

ensaios ars ad hoc e Ana Caseiro @Porto, CdM

Na semana seguinte, volta a ser altura de conversarmos sobre a música que ouvimos. O convidado da primeira sessão desta temporada tornou-se figura indispensável da história do cinema em Portugal, contagiando tudo e todos com a sua paixão e modos de ver o cinema. Cineasta e pedagogo, Serge Abramovici (Paris, 1955) realizou inúmeros filmes e publicou diversos livros, assim como artigos que reflectem o seu trabalho de pesquisa nas áreas da Literatura, da Linguística e da Tradução. Tem também escrito para teatro, encenado e feito desenho de luz de para diferentes espectáculos. Que música trará para partilhar na sessão de 5 de Outubro (15h30), conduzida por Diana Ferreira?

Um dia mais tarde, a 6 de Outubro (18h30) o ars ad hoc regressa a Serralves com Ana Caseiro para partilhar o seu Pierrot Lunaire com o público do Porto, depois de interpretar o trio Is the timer set? [2024], que a Arte no Tempo encomendou a Solange Azevedo (1995) e o asamisimasa estreou em Fevereiro passado, no Teatro Aveirense, no âmbito do projecto ‘Tubo de Ensaio’.

No final do mês, de regresso a Aveiro, a Arte no Tempo recebe o Schallfeld Ensemble para mais um ‘Tubo de Ensaio‘, no Teatro Aveirense. Poucos dias depois da estreia do programa ‘Text im Klang #6’, no Impuls, em Graz, e não antes de uma passagem por Viena, o Schallfeld chega a Aveiro para dar a ouvir as quatro obras criadas a partir o universo da multi-premiada dramaturga e romancista austríaca Elfriede Jelinek (1946), a quem foi atribuído o Nobel da Literatura em 2004. Os quatro compositores escolhidos para a 6ª edição do projecto foram a alemã Katharina Roth (1990), a sérvia Hristina Šušak(1996) e os italianos Daria Scia (1986) e Lorenzo Troiani (1989) – este último já conhecido do público da Arte no Tempo, pela sua participação no podcast Vortex Temporum (episódio 28).

Às quatro obras para violino, viola, violoncelo, contrabaixo e piano que estes compositores criaram, e que receberão em Aveiro a sua estreia portuguesa, soma-se a estreia absoluta de uma obra encomendada pela Arte no Tempo a João Carlos Pinto (1998) que, nesta peça em que à parte instrumental acrescenta ainda electrónica e luz, reflecte sobre os limites da impossibilidade e a batalha da perfeição contra a máquina. Sabe-se, à partida, que tudo correrá bem se correr mal, pois black midi é uma peça impossível de tocar.

O concerto é a 31 de Outubro (21h30) e os bilhetes já estão disponíveis no Teatro Aveirense.

Contamos com a vossa companhia para partilhar a música.

[24.09.2024]