O mês de Outubro marcou o regresso de várias temporadas da Arte no Tempo, num recomeço em sintonia com o propósito de transformação e de renovação de ciclo, com que o outono nos brinda.
Deixámos cair as primeiras folhas das várias rubricas de 2022/23, não para ficarmos de ramos despidos, mas para espalhar e anunciar o mais que pudermos o reinício de vários projectos que iniciaram mais um ciclo de amadurecimento e que, certamente, voltarão a dar muitos frutos.
Começámos o mês no Museu de Aveiro/Santa Joana na companhia de Luís Serrano e Ana Cancela, para abrir a quinta temporada das sessões Que música ouvimos?. À Paixão Segundo S. Mateus, de J. S. Bach (BWV 244), acompanhada por referências da pintura de particular importância para o nosso convidado e de poemas de sua própria autoria, Ana Cancela contrapôs a obra Air, de Helmut Lachenmann, compositor alemão que nos vai acompanhar durante toda a temporada do nosso ars ad hoc e que celebra em Novembro o seu 87º aniversário.
Poucos dias depois, no feriado de 5 de Outubro, o ars ad hoc apresentou-se no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, para o primeiro concerto da sua temporada regular, que este ano se desenrola entre esta cidade beirã e a cidade do Porto, no já nosso conhecido Auditório de Serralves. Na formação de trio, com Horácio Ferreira (clarinetes), Gonçalo Lélis (violoncelo) e João Casimiro Almeida (piano), o grupo interpretou Beyond [2006], de João Pedro Oliveira (1959) – obra com electrónica fixa; Allegro sostenuto [1986-88], de Helmut Lachenmann (1935) – uma obra que explora exaustivamente noções de ressonância e movimento; e o Trio op.44 em mi bemol maior [1854-56] de Louise Farrenc (1804-1875) – um bom trio clássico que, interpretado na sua versão original com clarinete, rematou o programa.
Ao público de Castelo Branco, que não raras vezes nos tem recebido nos últimos anos, deixamos a promessa de voltar em breve com nova música.
No dia seguinte recebemos, finalmente, em Aveiro o PlusMinus Ensemble, para começar as preparações de mais uma edição do Tubo de Ensaio. Previsto como parte da quinta edição (este ano teremos já a oitava!), este foi mais um dos vários concertos e oficinas que tivemos que ir adiando por constrangimentos da pandemia. Um ano e meio após o previsto e exactamente um ano depois de termos recebido o grupo hand werk (no Tubo de Ensaio 6), o PlusMinus Ensemble subiu ao palco do Teatro Aveirense, a 8 de Outubro, para um concerto acompanhado de uma forte componente visual. Mas não sem antes ter estado à conversa com alguns músicos, nessa mesma manhã, na oficina Tubo de Ensaio 05.
O concerto começou com We should get to know each other [2016], de Kristine Tjøgersen (1982), que nos propôs uma tradução em gestos musicais dos movimentos de uma dança de Bollywood que víamos projectada na tela, num remake de um filme americano dos anos 40. Seguiu-se-lhe a estreia nacional de Insula [2021], da jovem compositora portuguesa Eva Aguilar (2002), obra composta na sequência de uma chamada para compositores da Arte no Tempo e do agrupamento britânico para este Tubo de Ensaio. Antes de um curto intervalo para mudanças de palco, ouvimos ainda He just missed the train [2019], de Joanna Bailie (1973), uma obra com vídeo que nos convidou a pensar o universo de Beethoven de uma perspectiva diferente daquela a que estamos habituados (aqui, foi ele quem não chegou a ver o comboio).
A segunda parte do concerto começou com Go Guitars [1981], de Lois V. Vierk (1951), apenas com o guitarrista Tom Pauwels, e terminou com Sensate Focus [2014], de Alexander Schubert (1979), que voltou a juntar os 4 músicos em palco, com o regresso de Vicky Wright (clarinetes), Aisha Orazbayeva (violino) e Mark Knoop (piano e electrónica, que nesta peça se reinventou junto de uma caixa e duas baquetas de percussão). Esta última peça, visualmente impactante pelo desenho de luz pré-programado que a acompanha, foi sem dúvida a que maior repercussão teve num público consideravelmente maior, em número, do que aquele que esperávamos que ocupasse as cadeiras azuis do Teatro Aveirense. Contamos voltar a ter a sua presença no próximo Tubo de Ensaio, em março de 2023!
Num mês muito agitado, houve ainda espaço para mais uma sessão de formação online em Click Tracker – uma ferramenta de utilização livre, em ambiente Pure Data, para a criação de “click-tracks” que auxiliam a composição, preparação/estudo e execução de obras musicais com alguma complexidade métrica ou, simplesmente, que recorrem a electrónica – com o seu autor, João Pais. Esperamos poder agendar mais uma destas formações em breve!
E iniciou-se uma colaboração informal com a Escola Secundária José Estêvão, em Aveiro, no âmbito do Plano Nacional das Artes, no contexto da qual a Arte no Tempo leva a algumas turmas música do nosso tempo, procurando promover uma escuta activa e crítica junto de um público jovem. Na primeira sessão, com uma turma de Artes do 11º ano, abordou-se o tema da “interpretação na criação” com música de Franz Schubert (1797 – 1828) e Hans Zender (1936 – 2019).
[28.10.2022]