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Lachenmann pelo ars ad hoc

Pedimos aos músicos do ars ad hoc que partilhassem com o púbico algumas ideias a propósito do trio Allegro sostenuto [1986-88], de Helmut Lachenmann (1935), que interpretaram em Castelo Branco, a 5 de Outubro, e que voltam a apresentar hoje, em Serralves.

Para Horácio Ferreira, “tocar o Allegro Sostenuto exigiu uma grande flexibilidade na exploração de diferentes conceitos de som e na abordagem ao clarinete. É uma obra com um cariz rítmico muito forte, o que exige uma grande interacção entre todo o trio. Para além destes aspectos, a obra revela linhas musicais que só se descobrem com a perfeita sintonia entre o trio e a sonoridade obtida, tornando-a uma das mais significativas composições dos nossos tempos.”

Gonçalo Lélis afirma que “Lachenmann apresenta aos seus intérpretes um desafio sui generis, tanto a nível individual, pelo tratamento singular e nada convencional de cada instrumento (com uma exploração profunda de técnicas estendidas), como a nível camerístico, já que para fazer jus a tão detalhada partitura é requerido uma refinadíssima coordenação.
O seu processo de preparação é assim uma demanda séria, extremamente trabalhosa, por vezes algo penosa. No entanto, atendendo à riqueza da música em questão, as suas intrínsecas dificuldades vêem-se recompensadas.

Entre algumas das características que tornam a audição destes 14 episódios musicais tão fascinante, destacaria a forma como o material é intercalado e complementado pelos diferentes instrumentos, a utilização da ressonância como elemento estrutural, e do silêncio enquanto actor dramático, tal como o constante jogo de contrastes: a dualidade entre sonoridades explosivas e sons etéreos, quase inaudíveis, a oposição entre texturas sobrecarregadas, absolutamente caóticas, e outras rarefeitas, estáticas; entre o concreto o abstracto, entre a violência e a fragilidade.
É, assim, com grande responsabilidade e entusiasmo que encaro a possibilidade de poder partilhar com o público o vasto leque de carácteres deste marco do repertório contemporâneo.”

Para João Casimiro Almeida, este trio “demonstra um leque infinito de possibilidades estético-musicais entre o clarinete, o violoncelo e o piano. Interpretá-lo requer, não só bastante tempo de estudo individual metódico, como também um enorme trabalho de ensaio em trio, dado que o material temático está sempre repartido entre instrumentos, nunca isoladamente. Ainda assim, admiro a forma como Lachenmann escreve em Allegro Sostenuto, visto que, embora todo o material musical seja, de facto, uma simbiose constante entre os três instrumentos, cada parte individual tem uma escrita exímia, clara e concreta; todas as técnicas estendidas são claramente explicadas. No caso do meu instrumento, a escrita é bastante “pianística”. Durante os seus trinta minutos de música, temos de ser extremamente rigorosos em termos rítmicos e de sincronia, mas, ao mesmo tempo, estar constantemente a ouvir o resultado sonoro do grupo, dado tudo estar perfeitamente interligado – um verdadeiro tratado de contraponto dos séculos XX e XXI.”

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Auditório de Serralves
20.11.2022 | 18h00
obras de João Pedro Oliveira e de Helmut Lachenmann

[20.11.2022]