Na recta final, a bienal de música apresenta ars ad hoc em concerto monográfico de Helmut Lachenmann
Quase tão certo como a Arte no Tempo apresentar duas bienais alternadas no Teatro Aveirense (Reencontros de Música Contemporânea nos anos ímpares e Aveiro_Síntese nos anos pares) é o facto de se contar com a participação do ars ad hoc em cada uma das suas edições. Assim tem sido desde 2019, ano em que o grupo trabalhou com Beat Furrer para preparar a estreia nacional do seu quinteto com clarinete intorno al bianco [2016].
O agrupamento de música de câmara fundado em 2018, no seio da Arte no Tempo, apresenta-se esta noite na Sala Principal do Teatro Aveirense (21h30), com um programa inteiramente dedicado à música de um dos mais geniais compositores do nosso tempo. Depois de estudar no Conservatório da sua cidade natal, Helmut Lachenmann (Estugarda, 1935) estudou composição com Luigi Nono em Veneza, onde decorreram as primeiras apresentações públicas de obras suas, no contexto da famosa Biennale. A partir do final dos anos sessenta, a sua música explora sons “não contaminados” (ainda não gastos ou desvalorizados por uma utilização excessiva). As três obras que inauguraram esta estética são Pression [1969–70], para violoncelo solo, Dal niente – Intérieur III [1970], para clarinete solo, e Guero [1970], para piano solo, todas elas tratando o instrumento como um objecto sem história ou tradição musical, ao qual se pode emprestar uma nova identidade, ou uma nova postura ou atitude por parte do intérprete.
Partindo dessas mesmas três obras para instrumento solo, em 1971 foi apresentada Montage, um trio para clarinete, violoncelo e piano – exactamente a mesma formação para a qual Lachenmann compôs, no final da década seguinte, Allegro sostenuto [1986-88], uma das partituras de música de câmara simultaneamente mais sólidas e complexas do nosso tempo, de uma extrema dificuldade técnica (proporcional à qualidade da música), que circula entre a experiência da “ressonância” e o “movimento”.
Por razões meramente práticas, e porque a sua apresentação está já prevista para outra edição dos Reencontros de Música Contemporânea, a obra para violoncelo solo não foi incluída neste recital do ars ad hoc, grupo que, ao longo da presente temporada, se tem dedicado à exploração do universo deste que é um dos compositores mais originais e marcantes do nosso tempo. Helmut Lachenmann é o que se considera uma lenda viva.
Estarão em palco o clarinetista Horácio Ferreira, que interpretará Dal Niente – Intérieur III, o pianista João Casimiro Almeida, que interpreta Guero, e o violoncelista Gonçalo Lélis que, com os dois primeiros, interpretará Allegro sostenuto, o primeiro dos trios que o ars ad hoc apresentou na Fundação de Serralves e no Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco, nesta temporada.
O bilhete tem um custo de 4 €, sendo aplicáveis descontos para estudantes na bilheteira física do Teatro Aveirense.
A Arte no Tempo é uma estrutura financiada pela Direcção Geral das Artes. A programação da bienal Reencontros de Música Contemporânea é da responsabilidade da Arte no Tempo, que conta com a colaboração e apoio do Teatro Aveirense / Câmara Municipal de Aveiro na organização da mesma.
[27.05.2023]