A temporada da Arte no Tempo começou em Marvão, com um ensaio aberto do ars ad hoc para um grupo de utentes da Sta Casa da Misericórdia a 28 de Setembro e, no dia seguinte, um concerto na Academia Internacional de Marvão para a Música, Artes e Ciências.
Iniciar a temporada com o Pierrot Lunaire, op. 21 [1912], de Arnold Schönberg (Viena, 13. Setembro. 1874 – Los Angeles, 13. Julho. 1951), neste ano em que se celebra o 150º do nascimento do compositor, foi um momento muito especial, não por causa da efeméride, mas pelo empenho de todos os intervenientes na preparação da obra e pelos resultados obtidos. O nosso violinista Diogo Coelho fez um trabalho notável na primeira vez em que tocou viola. Foi também a primeira vez que o ars ad hoc trabalhou com a soprano Ana Caseiro, revelando-se uma nova relação de trabalho bastante profícua.
Muito obrigada, Sarah Maria Sun, pela sugestão desta soprano portuguesa!
A exigência da obra foi elevada a outro patamar, na medida em que o ars ad hoc manteve o princípio de trabalhar sem maestro, mesmo tratando-se de uma obra que é tradicionalmente preparada e apresentada com direcção musical.
Ainda que a sua execução em Marvão possa ter sido um bocadinho mais exemplar, o concerto no Auditório de Serralves foi particularmente especial. A familiaridade com a sala e com uma boa parte do público “aqueceram” o momento naquele primeiro domingo de Outubro, em que a interpretação do Pierrot Lunaire foi antecedida da apresentação de duas obras de Solange Azevedo, que se mostrou particularmente entusiasmada com o trabalho do grupo.
A 5 de Outubro, havíamos recebido Saguenail no Museu de Aveiro / Santa Joana, que nos apresentou um excerto do seu filme la revoyure, com música de Carlos Guedes. A contraproposta da Arte no Tempo, na véspera do concerto de Serralves, foi um bocadinho mais clássica do que o habitual: algumas peças do Pierrot Lunaire.
Também no Porto, mais para o final do mês (nos dias 26 e 27), o ars ad hoc esteve presente, na sua formação de quarteto de cordas, numa actividade promovida pelo Serviço de Artes Performativas do Museu de Serralves, em torno do trabalho de Sandro Mussida.
Foi mesmo no último dia de Outubro que recebemos o fantástico Schallfeld Ensemble num ‘Tubo de Ensaio‘, no Teatro Aveirense. Assim chegaram a Portugal as obras de Daria Scia (1986), Hristina Šušak(1996), Lorenzo Troiani (1989) e Katharina Roth (1990), inspiradas no universo de Elfriede Jelinek e encomendadas pelo impuls no âmbito do projecto ‘Text im Klang #6’. Todas elas boas peças, acabaram por, de certo modo, se anular um pouco entre si, na medida em que todas elas eram bastante lentas. Pelo contrário a obra que João Carlos Pinto (1998) compôs para este concerto, por encomenda da Arte no Tempo, beneficiou do absoluto contraste com todas as obras anteriores. black midi é uma peça de excesso – de velocidade, de som, de luz… – com um piscar de olhos à tradição, mas também a uma certa cultura popular, com grandes traços de humor.
[02.11.2024]