A partir dos anos 50, Portugal começava a contar com o apoio de uma instituição que viria a ser fundamental na abertura do país para manifestações artísticas da contemporaneidade do resto do mundo ocidental. Com os Festivais Gulbenkian, a Fundação cultivava o gosto pela música, com elevados padrões de exigência e congregando diferentes estilos. Em 1977 cria um espaço próprio para a música mais actual, juntando num restrito período de tempo compositores, músicos e públicos na celebração da contemporaneidade artística.
Os Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea (1977-2002) foram a grande referência de diferentes gerações que puderam acompanhá-los: foram o espaço em que compositores como Emmanuel Nunes (1941-2012) e Jorge Peixinho (1940-1995) apresentaram o seu trabalho influenciando as gerações seguintes, em que João Pedro Oliveira (1959), Virgílio Melo (1961) e Isabel Soveral (1961)- agora quase os decanos da composição em Portugal- estudaram com os primeiros e tomaram contacto com o trabalho de compositores do resto da Europa, o mesmo espaço a que, mais tarde, levariam os seus alunos, hoje referências, como Pedro Amaral (1972) e Luís Antunes Pena (1973). Foi no contexto desse espaço fértil que surgiram os agrupamentos musicais de quatro compositores que levaram a música contemporânea a diferentes regiões: o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (de Jorge Peixinho), o Grupo Música Nova (de Cândido Lima), a Oficina Musical (de Álvaro Salazar) e o ColecViva (de Constança Capdeville).
Inspirados por esse maravilhoso mundo de partilha e cientes do vasto caminho ainda por trilhar, um grupo de estudantes de composição inicia em Aveiro, 20 anos depois dos Encontros Gulbenkian, um projecto em que se juntava a divulgação da música contemporânea à formação dos jovens intérpretes e compositores. Ao longo da sua curta existência, as Jornadas Nova Música (1997-2001) marcaram também os jovens músicos que por lá passaram, também eles hoje profissionais e professores perpetuadores dessa procura da vivência da música do seu tempo.
O contexto actual não é o de 1977, nem o de 1997. O país conta com um elevado número de músicos capazes de executar as obras dos seus colegas compositores. A criação da Casa da Música veio estimular o contacto de um público mais abrangente com a música do nosso tempo. Não obstante as transformações entretanto ocorridas e a crescente facilidade de acesso, com as novas tecnologias, ao que por esse mundo fora se produz, o vazio provocado pelo desaparecimento dos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea (EGMC) e, numa escala mais modesta, das Jornadas Nova Música (JNM) não deixa de se fazer sentir.
Foi para celebrar a herança musical dos seus “antepassados” mais recentes, junto do público de hoje e das gerações em formação, estendendo uma ponte com o presente e o futuro, que a Arte no Tempo e o Atelier de Composição se associaram, criando os Reencontros de Música Contemporânea.
Coube à Arte no Tempo dar continuidade ao projecto, pensado, desde o primeiro momento, enquanto bienal de música contemporânea, que tem vindo a realizar-se, desde então, em todos os anos ímpares, em Aveiro.