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o mês maio(r)

O longo mês de Maio começou com um fim-de-semana preenchidíssimo em que, ao mesmo que tempo que decorria a sessão Que música ouvimos? no Museu de Aveiro / Santa Joana, o Teatro Aveirense ocupava-se com a preparação de dois concertos de música mista por jovens estudantes de música.

Depois de José António Christo nos conduzir numa visita guiada a Santa Joana, a sessão de escuta partilhada teve como convidado José Ribau Esteves, que nos trouxe uma belíssima escolha musical: o 4º andamento da Sinfonia nº 9, de Ludwig van Beethoven (1770 – 1827). Por parte da Arte no Tempo, a resposta de Ana Cancela foi música da norueguesa Kristine Tjøgersen (1982) – Bioluminescence for Orchestra and LED-lights [2017].

À noite, sob a direcção de Philippe Trovão, o Grupo de Música Contemporânea do Conservatório de Música de Santarém abria a bienal de música electroacústica Aveiro_Síntese 2024 com um programa que combinou obras de Jean-Claude Risset (1938 – 2016) – pioneiro e figura maior da música por computador – com música de compositores portugueses [c1].

O dia seguinte prosseguia com o estágio Nova Música para Novos Músicos (NMpNM), dirigido por Rita Castro Blanco, com assistência informática musical de Nádia Carvalho. Com a participação de alunos de diversas escolas do ensino artístico especializado e do ensino profissional da música, ao final da tarde deu-se a estreia de obras que Olívia Silva, Luís Neto da Costa, João Pedro Oliveira e Nuno Trocado escreveram para instrumento solo e electrónica, bem como das peças de conjunto compostas por Pedro Bento e Jaime Reis, havendo ainda tempo para revisitar a obra que Mariana Vieira escreveu para o primeiro estágio NMpNM, em 2018 [c2].

Entretanto, mais uma terça-feira trouxe ao mundo novo episódio de compositores a falar sobre algo que não a própria música. Continuando pelo feminino, o episódio 31 do Vortex Temporum traz-nos a irlandesa Anna Murray (1987) que aponta algumas influências da cultura japonesa no seu trabalho. Mais para o final do mês, o episódio 32 chegaria no timbre da cantora e compositora polaca Agata Zubel (1978) nos deixa descobrir a importância da voz humana na sua produção musical.

Na quarta-feira 15 de Maio, o primeiro concerto de música acusmática da bienal ocupou a Sala Principal do Teatro Aveirense, juntando obras de consagrados a uma geração mais nova de compositores. Foram escutadas obras de John Chowning (1934) e de Daniel Teruggi (1952), assim como de João Pedro Oliveira (1959), mas também de Sina Fallahzadeh (1981) e, escolhida no âmbito da rubrica ‘música em criação, Neurotransmits [2023], de Cláudio de Pina (1977) [c3].

Na noite seguinte, a mesma sala acolhia a apresentação do disco ‘espectros‘ (neper music), de João Casimiro de Almeida, por ocasião da celebração do centenário de Luigi Nono (1924-1990). Além de Libro de Arena, de Inés Badalo (1989), antecederam a interpretação de …sofferte onde serene… [1976] a estreia de uma nova versão da electrónica de Meteoritos [1973-74], de Cândido Lima (1939) – criada a partir da gravação da obra com o próprio João Casimiro Almeida ao piano – e a estreia nacional de Latitudes [2020-21], para piano preparado, electrónica e video, de Sara Glojnarić (1991)[c4].

Foi também João Casimiro Almeida, com Ricardo Carvalho, quem representou o ars ad hoc num programa apresentado na Fundação de Serralves a propósito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, com música de Filipe Pires (1934 – 2015), Álvaro Salazar (1938), Cândido Lima e Amílcar Vasques Dias (1945).

Nova quarta-feira, novamente em Aveiro, antes de mais um concerto de música acusmática (e não só), a bienal Aveiro_Síntese abriu a instalação Peng-Pang-Pung, de Rochus Aust, com o próprio e Verena Barié, além da intervenção do público.

Depois do animado exercício de Ping-Pong, o compositor Leigh Landy (1951) trouxe-nos obras da sua série ‘radio’, mas também duas incríveis performances [c5].

O dia seguinte foi, tal como a quinta-feira anterior, dedicado a recordar a obra de Luigi Nono. A promessa havia ficado da última visita de Henrique Costa a Aveiro, em 2021, e assim se cumpriu o regresso para a interpretação de Post-Prae-Ludium per Donau [1987], uma das obras finais do mestre veneziano. O concerto abriu com outra obra sua, Ricorda cosa ti hanno fatto in Auschwitz [1966], electrónica sobre suporte fixo. De seguida, Tomás Rodrigues (aluno do Conservatório de Música de Aveiro) fez a estreia absoluta de Prolegomena [2024], que João Moreira (2004) escreveu no âmbito do projecto NMpNM, e Henrique Costa interpretou ainda Still [1997] de Jonathan Harvey (1939 – 2012). O desenho de som foi de Ricardo Guerreiro [c6].

Culminando uma semana de trabalho com a nova música, a Orquestra Filarmonia das Beiras apresentou-se sob a direcção de Rita Castro Blanco, e novamente com assistência informática musical de Nádia Carvalho, com a estreia absoluta de uma obra do jovem turco Çağdaş Onaran e a revisitação da obra de Clara Iannotta (1983) que apresentara na anterior edição da bienal [c7].

Paralelamente, tomava forma Bustrofédon, acção cénica no espaço mental do escritor Alberto Velho Nogueira (também narrador), com música de Ricardo Guerreiro (1975), encenação de Leonor Keil e desenho de luz e espaço cénico de Pedro Fonseca, que viria a ser estreada na noite de 30 de Maio, com a soprano Andrea Conangla e os músicos Pedro Ribeiro, Alexandre Aguiar, Emídio Buchinho e Frederica Campos [c9].

Antes disso, no dia 29, mais um concerto de acusmática preencheu a Sala Estúdio do Teatro Aveirense, desta vez, com obras de compositores já apresentados no podcast Vortex Temporum. Começando com a gravação de uma improvisação em sintetizador Serge, de Luís Antunes Pena (1973), foi dada a escutar a obra Paris, Gar du Nord [2017], de Elżbieta Sikora (1943), Caves [2021], de Sofia Avramidou (1988), e uma obra de maior fôlego de Kees Tazelaar (1962), intimamente relacionada com o seu episódio do podcast: zeestilte [2022] [c8].

Apesar do vento, o dia 30 estava destinado à inauguração da caminhada aural Aveiro Listening [2024] e Tiago Cutileiro (1967) não se deixou assustar pela ‘brisa’. À hora marcada, contextualizou a sua nova criação e explicou os princípios por detrás do percurso que concebeu, percurso esse disponível todo o ano, gratuitamente, sendo apenas necessário um par de auriculares e um dispositivo de leitura de ficheiros de som (mas melhor ainda se for um telemóvel com rastreamento geográfico).

[31.05.2024]