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ars ad hoc <-> Serralves :: programa zero

No próximo domingo, dia 4 de Julho, o ars ad hoc apresenta-se pela primeira vez no Auditório de Serralves. Não sendo a primeira colaboração da Arte no Tempo com a Fundação, é a primeira vez que o seu agrupamento de música de câmara actua no Auditório do Museu de Arte Contemporânea, iniciando uma colaboração que, já na próxima temporada, resultará na apresentação de diferentes programas – uns paralelos a exposições e programados com Pedro Rocha, outros desenvolvidos em torno da música de Simon Steen-Andersen, a que não faltarão obras de compositores portugueses.

Neste concerto, propõe-se um programa em que figuram três obras compostas para e estreadas pelo ars ad hoc, a que se junta duas obras de compositores residentes em Berlim – do dinamarquês Simon Steen-Andersen, que estará em foco na próxima temporada do agrupamento, e da britânica Joanna Bailie, com quem a Arte no Tempo tem prevista outra colaboração.

A primeira obra resulta de uma parceria entre o ars ad hoc e o Ensemble neoN, financiada pelas EEA Grants, no âmbito da qual João Carlos Pinto (1998) foi seleccionado para escrever para o ars ad hoc, por encomenda da Arte no Tempo financiada pela DGArtes. Com estreia prevista para Setembro de 2020, em Oslo, só agora, como consequência da pandemia de COVID19, o ars ad hoc teve oportunidade de preparar Studies for Figures and Forms [2020], septeto composto por dois andamentos contrastantes, “sendo o primeiro extremamente pulsado e agressivo e o segundo bastante frágil e subtil”.

Besides [2003] é a terceira obra de Simon Steen-Andersen (1976) que os músicos do ars ad hoc apresentam em público, antecedendo o trabalho que desenvolverão com o compositor na próxima temporada. Trata-se de um sexteto bastante particular em que três instrumentos tocam com pouquíssima intensidade sonora, potenciando o volume sonoro por meio de amplificação, enquanto outros três tocam com bastante intensidade recorrendo a surdinas para abafar o som. Além do drama inerente ao confronto entre tocar pianíssimo com enorme amplificação e tocar muito forte em instrumentos fortemente abafados, a amplificação também permite fazer alguns instrumentos soar em diferentes pontos fixos no espaço.

O quarteto de cordas Kreise [2021] é o culminar do período “noise” de Ricardo Ribeiro (1971). Nunca antes o compositor escrevera uma obra em que dispensasse as notas, sendo esta aquela em que foi mais longe na utilização de ruído sem notas. “A partir daqui, o caminho só pode ser inverso, ou seja, irei conciliar sempre sons de altura definida com som granulado.”
Kreise é a terceira parte do quarteto composto por encomenda da Fundação Centro Cultural de Belém para os Dias da Música, estreado pelo ars ad hoc na bienal de electroacústica Aveiro_Síntese 2020. As duas primeiras partes da obra foram retiradas do catálogo pelo próprio compositor, consistindo a obra, actualmente, apenas na terceira parte.

© 2019 Frederic Boudin

Também Adagio & Beethovenfest [2020], de Kristine Tjøgersen (1982), foi composta para o ars ad hoc, por encomenda da Fundação Centro Cultural de Belém para os Dias da Música e estreada na mesma bienal de música electroacústica. Tal como o quarteto de Ribeiro, a obra é a resposta ao desafio lançado, por convite de André Cunha Leal, de criar novas obras que de algum modo se cruzassem com o universo beethoveniano. Nela, Tjøgersen dialoga de forma explícita com a Op. 111 de Beethoven, explorando o ritmo da última sonata do mestre com novos efeitos, revelando o humor peculiar da compositora distinguida em 2020 com o mais importante prémio de composição norueguês, o Prémio Arne Nordheim.

Composta para o Ives Ensemble, Symphony – Street – Souvenir [2010], de Joanna Bailie (1973), é uma homenagem ao compositor italiano Aldo Clementi (1925-2011), começando com uma aproximação à Sinfonia nº 1 de Johannes Brahms (uma das favoritas de Clementi), em que os instrumentos do agrupamento acompanham uma gravação de orquestra cuja velocidade vai diminuindo progressivamente, daí resultando a diminuição das frequências/alturas do som. A segunda parte da peça, Street, retrata um carrilhão de Copenhaga com os sons envolventes. A terceira, Souvenir, é uma caixinha de música com sons sinusoidais, em que é evidente o mesmo processo de “desaceleração” que nos dá uma sensação de queda livre. Ao longo da obra, somos envolvidos pelo ambiente reflexivo próprio da linguagem da compositora, que convida a uma total entrega ao exercício de escuta.

Após esta primeira residência em Serralves, que acabou por ser repartida com ensaios também na Casa da Música, o ars ad hoc regressa ao Porto em Setembro, com um programa paralelo à exposição de Louise Bourgeois.

Ricardo Carvalho > flauta; Horácio Ferreira > clarinetes; João Casimiro Almeida > piano; Álvaro Pereira e Diogo Coelho > violino; Francisco Lourenço > viola; Gonçalo Lélis > violoncelo; Rui Pedro Rodrigues > contrabaixo; Diana Ferreira > programação

[2. Julho. 2021]