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Perfil | João Moreira

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O trompetista João Moreira (Porto, 1989) é solista na orquestra MusicAeterna, em Perm (Rússia), e colabora com a Orquestra XXI desde o programa de estreia deste agrupamento de jovens músicos portugueses residentes no estrangeiro.

Em Dezembro de 2015 será o seu trompete o que se ouvirá em Espanha, no concerto de encerramento da Mostra Portuguesa, em Madrid (Centro Cultural Conde Duque), em que a Orquestra XXI interpretará em estreia absoluta uma obra recentemente composta por António Chagas Rosa (Audivi Vocem) e o mesmo arranjo da Sinfonia nº1 de Mahler com que se apresentou na reabertura do Grande Auditório Gulbenkian, em Fevereiro de 2014 (de Iain Farrington).

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[AnT/Orq XXI] Ocasionalmente, és visto a tocar em alguns palcos nacionais, mas é na Rússia que passas a maior parte do tempo. O que te prende a esse país?
[JM] Há inúmeras razões: é o meu primeiro lugar fixo, adoro o projecto em que estou integrado; a orquestra MusicAeterna, com o maestro Teodor Currentzis, é uma orquestra que está em progressão e sempre extremamente activa. Temos de momento um contrato com a Sony, e apenas em 3 anos tive a oportunidade de gravar a Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, a 3ª e a 5ª sinfonias de Gustav Mahler, e as 3 óperas “Da Ponte” de Wolfgang Amadeus Mozart (Cosi fan Tutti, Le Nozze de Figaro e Don Giovanni). Ou seja, é uma orquestra em ascensão. Tenho também a oportunidade de viajar e conhecer o mundo e tocar em diversos palcos como, por exemplo, nos festivais de Lucerna e de Salzburgo. E não posso, de maneira alguma, deixar de me pronunciar relativamente à paixão que público demonstra pela orquestra. É incrível como a cultura dos cidadãos Russos é tão dedicada ao Ballet e à musica Clássica. Sempre “casa cheia” e fortes aplausos. Não vi isto em mais lado nenhum. 

O que é que a tua ida para a Rússia te trouxe como experiência mais importante?
Está a ser, sem dúvida, uma excelente oportunidade para eu adquirir experiência enquanto músico de orquestra. Tive que me adaptar a outro estilo [de vida], mas tem sido gratificante. O que mais posso realçar creio ser a oportunidade de tocar em grandes palcos. E, claro, o principal tem sido a experiência musical devido à diversidade de repertório que tocamos, desde o clássico ao moderno.

Antes deste período na Rússia, estiveste na Alemanha, onde concluíste o Mestrado na Hochschule für Musik und Theater Hamburg. Conhecer outros mundos era uma necessidade pessoal ou foi o acaso que te fez agarrar oportunidades que foram surgindo?
Bom, desde cedo que o meu professor na EPME e na ANSO, Prof. Sérgio Charrinho, me incentivava e me motivava a sair de Portugal em busca de um nível seguinte e de novas oportunidades. Nunca foi uma mera coincidência, foi sem dúvida devidamente preparado. Depois de uma vasta lista de ideias de professores com quem poderia vir a estudar, chegámos à conclusão de que o Prof. Matthias Höfs seria o ideal. Então, trabalhámos no sentido de chegar até ele. Fui inicialmente ter uma aula com ele a Bremen, na fábrica de instrumentos de metais “Thein”- marca em que é o principal artista. Aí tivemos o primeiro contacto, o que foi como um sonho: sempre fui um enorme fã dele e ali estava eu a tocar ao lado dele. Após essa aula, incentivou-me a fazer a prova e assim foi: durante dois anos estudei na categoria de Mestrado em performance.

A orquestra que actualmente integras, na Rússia, não se situa propriamente na capital, mas também não é uma mera orquestra regional. Que semelhanças e diferenças existem entre uma orquestra como a MusicAeterna, em Pern, e as orquestras regionais portuguesas?
Posso afirmar seguramente que uma coisa nada tem a ver com a outra. O sítio onde se toca não faz a orquestra. Um enorme exemplo disso é Moscovo, que conta com mais de 40 orquestras e, de facto, as que de verdade se realçam são a Orquestra Nacional Russa e o Teatro Bolshoi. Mas voltando à pergunta, com as orquestras regionais portuguesas, creio que poderiam estar ao mesmo nível de qualquer outra se a ajuda monetária fosse igualada às de Lisboa ou Porto, por exemplo. No caso da MusicAeterna, conta com o apoio de bons patrocinadores e bons managers o que a faz estar ao mesmo nível das outras. Essa é sem duvida a grande diferença entre uma orquestra regional Russa e uma orquestra regional Portuguesa: a situação monetária e o apoio com que contam.

Permanecer na Rússia para o resto da vida é uma possibilidade?
Sem dúvida que não. Nunca foi nem será um possibilidade. Estou extremamente grato por esta experiência, mas é só de passagem. Quero voltar para a Europa. Tenho um desejo forte de trabalhar numa orquestra do meu país, mas é simplesmente impossível: não há lugares vagos, portanto nem há oportunidade de tentar. Isso faz com que Alemanha seja um dos meus principais objectivos e tenho vindo a trabalhar nesse sentido. Quero voltar a mudar-me para a Alemanha brevemente.

Integraste a Orquestra XXI nos três primeiros programas, apesar de não teres podido estar presente mais recentemente. O que há de comum nas diferentes residências artísticas e o que notas menos constante, ou diferente, ao longo da existência do projecto?
Antes de mais é um prazer e honra fazer parte deste projecto. Fico sempre muito feliz quando recebo um convite da Orquestra XXI. De comum, sem dúvida, o espírito positivo e a vontade de trabalhar que se sente a cada projecto, o que motiva e dá vontade de fazer melhor. A excelente organização com que conta esta orquestra ajuda de facto no projecto. Portugal é um país onde é muito difícil fazer um projecto lançar-se e desenvolver-se, portanto é de louvar o trabalho e força de vontade de toda a produção envolvida neste projecto.

Que projectos musicais tens para os tempos mais próximos?
Todo o mês de Janeiro estarei em digressão pela Europa com a orquestra MusicAeterna, com instrumentos clássicos. E o meu grande objectivo após essa digressão e em parceria com os seguintes programas agendados aqui em Perm é ter aulas privadas com um trompetista com quem tenho estado em contacto e esse será por agora o meu maior objectivo: desenvolver e aprender mais com novas ideias.

foto © Jérôme Arnouf