Música de Câmara | 2014/15
Cine-Teatro Avenida (Castelo Branco) | 21 Outubro (21h30)
Museu Arte Nova (Aveiro) | 23 Outubro (22h30)
Filipe Quaresma (violoncelo)
Gilberto Bernardes (saxofone e electrónica ao vivo)
Duplo Retrato: Isabel Soveral | Ricardo Ribeiro
- Isabel Soveral | Anamorphoses VI
- Ricardo Ribeiro | Ostinati
- Edson Denisov | Sonata para saxofone e violoncelo
- Isabel Soveral | Anamorphoses IV
- Ricardo Ribeiro | In Nuce
Tendo como eixo de simetria a Sonata para saxofone e violoncelo de E. Denisov, que reúne os dois músicos em palco, o programa foi construído com vista a proporcionar um duplo retrato parcial dos dois compositores portugueses em foco.
notas sobre as obras
Anamorphoses VI (2001), para saxofone e electrónica sobre suporte
Anamorphoses IV (1997), para violoncelo solo
Anamorphoses IV e Anamorphoses VI pertencem ao ciclo ‘Morfoses’, formado por um vasto grupo de peças para instrumentos acústicos, com ou sem fita magnética. Embora se diferenciem na forma, as diferentes peças que compõem o ciclo partilham o mesmo critério de elaboração do material sonoro básico.
O material criado para as Anamorphoses I, II e III (todas elas com electrónica) é desenvolvido nas Anamorphoses IV, V, VI e VII, nas quais as ideias musicais vão adquirindo uma dimensão puramente instrumental e o material sonoro original vai sendo inserido em contextos expressivos distintos, por transformação gradual das qualidades expressivas iniciais.
Anamorphoses VI é a única obra do ciclo que se apresenta em duas versões- com e sem electrónica- sendo a que melhor demonstra a fusão de todo o material (electrónico e instrumental acústico). Datada de 1998, a obra resulta de uma encomenda de Daniel Kientzy, que a estreou, para a realização de um disco em homenagem ao compositor Jorge Peixinho. A versão com electrónica foi composta a pedido do grupo Cattrral, tendo sido estreada por Rico Gubler no Teatro Rivoli, em 2001.
Estreada nas II Jornadas Nova Música, em 1998, Anamorphoses IV (para violoncelo) é a primeira obra do ciclo que não recorre à utilização de sons electrónicos, sendo elaborada a partir de dois curtos fragmentos de Anamorphoses III (para violino e fita magnética).
Isabel Soveral
Sonata para saxofone e violoncelo (1971)
Composta para Claude Delangle em 1994, a Sonata para saxofone alto e violoncelo surge na linha da Sonata para saxofone e piano, escrita em 1970, da qual representa um desenvolvimento. Consistindo num longo diálogo entre os dois instrumentos, cujo timbre se funde sem que se fuja a uma escrita idiomática para ambos, a Sonata para saxofone e violoncelo é composta por três andamentos, dos quais o segundo é o mais longo e desenvolvido, assim como caracterizado por um discurso mais dialogante, recorrendo com frequência à utilização de quartos de tom. Nos andamentos extremos, ambos os instrumentos apresentam um discurso mais impositivo, sendo o terceiro pontuado por elementos jazzísticos.
Tratando-se de uma das últimas obras do catálogo do compositor, a Sonata para saxofone e violoncelo apresenta características seriais e é dedicada ao saxofonista Claude Delangle, que a estreou.
Ostinati (2010), para violoncelo e electrónica em tempo real
Ostinati representa uma mudança de direcção no trabalho do compositor: uma curva que integra elementos anteriormente rejeitados, orientando-se sob uma maior liberdade, na medida em que vive menos da negação de material e soluções do que da reunião das ideias musicalmente suficientes para que se crie uma (id)entidade sonora. O material que se encontra na génese da partitura é, portanto, bastante sucinto.
À semelhança do que acontece noutras obras de Ricardo Ribeiro, se o pensamento associado ao processamento electrónico se encontra presente desde o primeiro momento, facto é que a parte instrumental vive por si só, constituindo uma peça autónoma. O inverso não se verifica: a electrónica só é possível como factor que exponencia a ideia original, por vezes mesmo recriando-a, de acordo com as anotações que datam da elaboração da parte instrumental.
A ideia de que cada execução consiste numa peça única é, em Ostinati, levada um pouco mais longe, já que o programa electrónico foi concebido com algumas características de aleatoriedade no que respeita ao grau de amplitude da microtonalidade e à sobreposição de elementos mais próximos ou mais afastados no tempo que, em determinadas secções, poderão ser espoletados. A mesma electrónica funciona como a orquestração duma particella, acrescentando microtonalidade e avolumando o timbre. A persistência de ideias e gestos é uma metáfora da ideia de repetição, aspecto que tem marcado presença cada vez mais evidente nas últimas obras do compositor. A repetição que em Intensités (2001) acontecia no plano harmónico, em Ostinati está presente a um nível muito mais imediato, no gesto, nas alturas, na constante ocorrência de uma força que transmite simultaneamente serenidade.
In Nuce (2011), para saxofone e electrónica em tempo real
In Nuce é a segunda peça de um percurso iniciado com Ostinati, em que se integra também In Limine (2011), para agrupamento de câmara. As três obras foram criadas com a assistência informática do saxofonista Gilberto Bernardes, na realização da componente electrónica, caracterizando-se por um trabalho que privilegia o timbre e em que, não abdicando de alturas fixas, o compositor se distancia de um anterior pensamento mais centrado na composição da linha musical.
Escrita por encomenda de Gilberto Bernardes, In Nuce é dedicada a Tiago Carvalho e Catarina Brandão, tendo a sua primeira apresentação pública ocorrido no Porto, em 2011.
Diana Ferreira
Louvado Seja Design
David Pinho
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