Com a primeira sessão de um ciclo de dedicado a “Música e Cinema“, a Arte no Tempo retoma hoje as noites de Música no Museu.
Ao longo dos próximos meses, com as devidas interrupções, o Museu Arte Nova manterá portas abertas nas noites de quinta-feira.
Desengane-se quem pensou aproveitar o momento para o visitar, pois apenas o aconchegante auditório do museu estará acessível ao público. A actividade que assim o justifica não é novidade: já no ano passado a associação Arte no Tempo (AnT) ali realizou cinco ciclos de sessões de audição e debate organizadas em torno de diferentes temáticas relacionadas com a música.
São precisamente a música e o tempo em que vivemos os protagonistas das sessões de “Música no Museu”, uma das linhas do projecto Omnia Mutantur que, entretanto, conta já com uma ramificação na cidade da Guarda.
A iniciar o primeiro ciclo da temporada de 2014/15, dedicado a “Música e Cinema”, Nuno Fonseca apresenta uma sessão que intitulou de “Trilhos de voz, música e ruído: o cinema como arte da escuta”.
Licenciado em Direito e em Filosofia pela Universidade de Coimbra e Doutorado em Filosofia, na especialidade de Epistemologia e Filosofia do Conhecimento, pela Universidade Nova de Lisboa (UNL), com trabalho sobre questões de representação e de percepção, é na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL que o investigador do Instituto de Filosofia da Nova lecciona a disciplina de “Retórica e Argumentação”, tendo anteriormente ministrado o seminário “Arte e Experiência”.
O seu trabalho mais recente sobre questões ontológicas, epistemológicas e estéticas levantadas pelos sons e pela experiência auditiva, bem como a íntima relação que mantém desde há vários anos com a música e o fenómeno acústico motivaram o desafio que a AnT lançou a N. Fonseca, para que viesse a Aveiro mostrar uma perspectiva pessoal sobre as relações da música com o cinema. “Apesar de nos termos habituado a ligar semanticamente a banda sonora de um filme à música que, ocasionalmente, colabora com as imagens, a verdade é que ela é constituída por uma multiplicidade de camadas e registos sonoros que se combinam de forma complexa para estruturar e transformar a nossa percepção dos objectos cinematográficos. Com efeito, os sons que compõem a dimensão auditiva do cinema não se acrescentam simplesmente às imagens- ainda que a história e a precedência do cinema mudo em relação ao sonoro pareça promover essa leitura-, pelo contrário, eles cooperam com as imagens para permitir a percepção dos efeitos discursivos, diegéticos, rítmicos ou mesmo tonais por um espectador que é também, dessa maneira, um ouvinte ou um escutador. (…)” [Nuno Fonseca]
Até 16 de Outubro, com sessões orientadas por André Godinho, Carlos de Pontes Leça e Hugo Barreira, a música no Museu Arte Nova vive-se associada ao cinema.
[texto publicado no Diário de Aveiro de 25.09.2014]