Faz por agora um mês que tivemos o privilégio de promover um concerto memorável, inaugurando da melhor forma possível o programa tubo de ensaio e os concertos realizados no Teatro Aveirense com curadoria da Arte no Tempo.
O parceiro escolhido para tal empresa foi o ensemble mosaik, numa formação de trio que contou com o violinista Chatschatur Kanajan, o violoncelista e alaudista Mathis Mayr e o pianista fundador do grupo Ernst Surberg, em associação com o compositor Luís Antunes Pena e o ars ad hoc.
Foi precisamente a 30 e 31 de Janeiro que a actividade teve lugar, na Sala Principal do Teatro Aveirense, com repertório muitíssimo bem escolhido e melhor ainda interpretado, combinando compositores de diferentes nacionalidades, com estéticas diversas, todas elas transpirando modernidade.
Uma obra muito subtil para violino e piano da sueca Lisa Streich (composta na verdade para o duo Hellqvist/Amaral)- Safran [2017]- cujo interesse assenta em parte sobre o próprio mecanismo que a compositora criou para tocar nas cordas do piano, antecedeu Jabsurr [2009], de Samir Odeh-Tamimi, para violoncelo e piano.
Em Tracking Noise #4 [2018], de Luís A. Pena, os músicos trocaram os seus tradicionais instrumentos por cabos de som, lâmpadas e botões, usando ruído como matéria prima, em colaboração com o próprio compositor.
Da compositora britânica residente em Berlim Joana Baillie, Mathys Maïr interpretou uma extraordinária obra para violoncelo e electrónica sobre suporte fixo intitulada Trains [2014], com vertiginosas torções na afinação que, de algum modo, parecem representar o tempo em que vivemos.
Este fabuloso concerto, que os próprios músicos afirmaram ter sido um dos melhores concertos de sempre do ensemble mosaik, terminou com o trio Trauben [2005] do compositor cujo nome é de imediato associado ao agrupamento berlinense: Enno Poppe.
Na manhã seguinte, com a memória do concerto ainda bem presente, o agrupamento partilhou experiências e sabedoria com o ars ad hoc e, juntamente com Luís Antunes Pena, acolheu um grupo de jovens compositores, abordando singularidades do repertório apresentado na véspera e alguns aspectos do seu trabalho colectivo.
No final, o desejo que a Arte no Tempo manifestou foi o de desenvolver novo projecto com o ensemble mosaik e poder acolhê-lo, numa formação mais alargada, em tempos vindouros.
[29. Fevereiro. 2020]