No início de Novembro, conhecemos os compositores que se propuseram escrever para o Between Feathers, o Art’Ventus Quintet e o ars ad hoc. Os três seleccionados, orientados para estéticas muitos diferentes entre si, foram, respectivamente, o portuense David Teixeira da Silva (2002), o siciliano Michele Allegro (1990) e o bávaro Andreas Bäuml (1991).

Ao contrário do que é habitual, foi o convidado da sessão Que música ouvimos? quem trouxe a obra contemporânea, respondendo-llhe a Arte no Tempo com um andamento de um quarteto de cordas clássico. Dificilmente a escolha de João Martins poderia ter feito mais sentido no contexto de tudo o que generosamente partilhou com uma plateia cúmplice. Foi com uma muito bem conseguida performance de Corey Schutzer da obra Failing, a very difficult piece for solo string bass [1975], de Tom Johnson (1939), que João Martins (a interessantíssima e multifacetada pessoa que, no contexto da Arte no Tempo, sempre foi uma figura discreta, mas determinante em momentos chave) nos pôs a pensar no que pode a música ser, assim como nas múltiplas camadas de sentido que uma obra nos pode fazer explorar.
Mais conservadora, a resposta da Arte no Tempo foi um andamento do Quarteto em fá menor Op. 20 nº 5 [1772], de Haydn, que o ars ad hoc tocaria no dia seguinte, em Sta Marta de Portuzelo.


Foi naquela freguesia minhota que, na tarde de 3 de Novembro, o grupo de câmara da Arte no Tempo deu a escutar, pela primeira vez em Portugal, o Quarteto de cordas nº 2 ‘Pathos of distance’ [2017], de Oscar Bianchi (1975), num programa em que, além de Haydn, ainda voltou a tocar o Quarteto de cordas nº 1 [2023], de Mariana Vieira (1997). Na bonita Igreja de Santa Marta de Portuzelo, o quarteto de cordas do ars ad hoc (com Diogo Coelho e Matilde Andrade, Francisco Lourenço e Gonçalo Lélis) foi acarinhado por uma plateia não muito numerosa, mas bastante entusiasta. É especialmente gratificante sentir a atenção que um tal público dedica à música. Agradecemos, claro, ao Banco BPI | Fundação “la Caixa” e à Paróquia de Santa Marta de Portuzelo, por tornarem possível este encontro com a música.




No domingo seguinte, num contexto diferente, o público não foi menos entusiasta. Em Seia, o ars ad hoc foi recebido, com todo o profissionalismo, por uma simpática equipa inteiramente disponível para fazer o grupo sentir-se o mais especial possível. Falamos, naturalmente, do Projecto DME e da equipa que viajou de Lisboa para preparar todo o equipamento para que o trio de clarinete (Horácio Ferreira), violoncelo (Gonçalo Lélis) e piano (João Casimiro Almeida) apresentasse um programa com música de dois compositores portugueses contemporâneos e um clássico indispensável. O Trio Op. 11 em si bemol maior [1797], de Beethoven, contracenou com Beyond [2006], de João Pedro Oliveira (1959), e Is the timer set? [2024], que Solange Azevedo (1995) havia composto no início do ano por encomenda da Arte no Tempo e que os mesmos músicos tinham interpretado um mês antes, no Auditório de Serralves.
A segunda quinzena ficou marcada pela realização da oficina à distância de click-tracker, pelo regresso do podcast Vortex Temporum com o episódio da compositora norte-americana Zara Ali (Memphis, 1995) – episódio nº 35 – e pela visita do ars ad hoc ao Agrupamento de Escolas de Eixo, que tão bem nos soube …a crescer com a música.

ars ad hoc / crescer com a música 1º ciclo | com Ricardo Carvalho e Gonçalo Lélis


[02.12.2024]