A Orquestra XXI está prestes a iniciar a sua 7ª digressão, assinalando o 4º centenário da morte de William Shakespeare com uma produção da obra que Mendelssohn escreveu a partir de Sonho de uma Noite de Verão. Dinis Sousa fala sobre o projecto, que conta com a participação do actor Ricardo Pereira.
Dinis Sousa (Porto, 1988), o maestro fundador do projecto da Orquestra XXI, continua a residir em Londres, onde tem desenvolvido trabalho com John Eliot Gardiner. Com a peça Sonho de Uma Noite de Verão, que esta semana apresenta em digressão com a Orquestra XXI, mantém uma estreita relação. Depois de a ter trabalhado em inglês e alemão com o maestro britânico, apresenta-a em Portugal …em português.
[AnT] Parece mais ou menos óbvio: a obra interessava-te e os 400 anos da morte de Shakespeare surgiram como um belíssimo pretexto para fazer o Sonho de Uma Noite de Verão. Mas como foi montada esta versão em português? Como foi elaborada a selecção dos excertos a apresentar?
[DPS] Foi um longo processo que provavelmente só vai terminar no último concerto. É o tipo de peça que se presta a ser constantemente ajustada mediante diferentes experiências e tentativas. A escolha do texto foi também um longo processo. Muitas vezes, é apresentada uma selecção de excertos de vários actos e de diferentes personagens, sem que haja sentido de narrativa. Uma vez que o público português está, provavelmente, menos familiarizado com a peça do que o público inglês, acabei por optar por escolher excertos que seguiam uma narrativa mais marcada, focando-se na história do Oberon, Titania e Puck.
Como é que se consegue montar um projecto destes em menos de uma semana?
Ainda estamos a perceber isso… Mas para este projecto houve uma preparação com muita antecedência para tentar adiantar uma parte do trabalho e, sobretudo, das decisões. Em termos musicais, o formato dos ensaios é o habitual, mas aqui temos dificuldades acrescidas ao ter que conjugar uma orquestra, um pequeno coro, e um actor.
Como se deu a escolha do narrador?
Eu conheci o Ricardo há cerca de 1 ano, por ocasião do Prémio FAZ na Gulbenkian, onde ambos estávamos a partilhar uma mesa-redonda. Depois disso, surgiu esta ideia de fazer o Sonho de Uma Noite de Verão e desafiei-o a juntar-se a nós. Uma orquestra com músicos da diáspora a colaborar com um dos nossos grandes actores a viver também fora de Portugal pareceu-me um bom ponto de partida para este projecto.
Desta vez, a digressão só passa por cidades mais povoadas, em salas com programação regular. Deixou de fazer parte dos objectivos da Orquestra XXI levar a música onde ela menos acontece?
Claro que não, simplesmente aconteceu termos 4 concertos em localidades maiores. A orquestra está constantemente a tocar em locais diferentes, por vezes mais pequenos, por vezes maiores. Mas mesmo em cidades maiores, o facto de haver programação regular não quer dizer que haja concertos de música sinfónica regularmente.
Recentemente dirigiste o Monteverdi Choir nos BBC Proms, num concerto muito aplaudido, de Romeu e Julieta (Berlioz), em que a Orchestre Revolutionaire et Romantique foi dirigida por John Eliot Gardiner. Consegues estabelecer um paralelo entre a experiência dessa digressão e os projectos com a Orquestra XXI?
Claro que esta recente experiência com o Monteverdi Choir e o John Eliot Gardiner foi muito marcante e o paralelo mais óbvio com esta digressão será no trabalho com o nosso coro de câmara, uma vez que aprendi imenso ao trabalhar o coro com ele e ao observar as diferentes formas de fazer o mesmo grupo de cantores soar de tantas formas diferentes. Mas antes deste projecto, com a mesma “equipa”, fizemos este mesmo Sonho de Uma Noite de Verão, em inglês e em alemão, que me permitiu conviver com a peça durante muito tempo e ficar a conhecer o texto muito bem, o que é uma enorme ajuda para este trabalho que estamos agora a fazer com a Orquestra XXI.