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Horácio Ferreira

Horácio Ferreira (Santa Comba Dão, 1988) | Madrid, desde 2011
clarinete

Recentemente nomeado ‘Rising Star’ temporada de 2016/17; Jovem Músico do Ano 2014 (Prémio Maestro Silva Pereira); frequenta a Escuela Superior de Musica Reina Sofia; estudou na ESMAE e EPME; premiado em concursos em Portugal, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América e Itália; bolseiro da Fundación Albéniz, Fundación Carolina e FCG.

[Arte no Tempo/Orquestra XXI] Concluindo a Licenciatura, foste logo para a Escola Superior de Música Rainha Sofia (Madrid). O que te levou a procurar esta instituição, uma vez que não confere um grau académico?
Quando terminei a licenciatura não fui de imediato para Madrid, pois nesse ano, não abriram vagas de clarinete. Esta mudança só viria a acontecer em 2011. Eu tinha muita vontade de estudar com o Michel Arrignon, portanto nunca me preocupou o facto de não me ser atribuído um determinado grau académico. O meu foco era evoluir no clarinete com alguém que pudesse ajudar-me, mesmo que isso implicasse não estar numa instituição, ou que a mesma não me conferisse uma habilitação.

Em Setembro passado tornaste-te o Jovem Músico do Ano. Este verão recebeste a notícia de que serás “Rising Star” da European Concert Hall Organisation na temporada de 2016/17. Em que medida é que ter ido para Madrid pode ter contribuído para estas conquistas?
Ter ido para Madrid foi fundamental. Fui focado em melhorar e em dedicar-me ao clarinete para conseguir objectivos como estes. Felizmente, tive a sorte de os poder atingir. Lá tive a oportunidade de me apresentar inúmeras vezes em palco, nas mais diversas formações; isso, sem dúvida, foi um ponto chave para atingir as mais recentes conquistas.
Estar rodeado de grandes nomes, em Madrid, ajudou-me imenso e creio que isso foi fundamental para a maneira como encaro hoje o clarinete e a música.
Posso concluir que as diferentes vivências e o nível de alunos da Reina Sofia me ajudaram a abrir os horizontes no que diz respeito à maneira como vinha encarando a música até então.

Podes explicar sucintamente como funciona o programa ‘Rising Star’ e falar-nos do que tens planeado para essa temporada?
O programa ‘Rising Star’ consiste numa digressão europeia pelos auditórios membros desta organização, onde os diferentes artistas escolhidos actuam. Esta organização inclui as principais salas de concertos europeias, como o Barbican Hall em Londres, o Konzerthaus em Viena, ou a Philharmonie de Paris e eu fui nomeado pelas duas instituições portuguesas, a Casa da Música e a Fundação Calouste Gulbenkian. No meu caso, irei apresentar-me em recital com piano, onde pretendo divulgar alguma música portuguesa e tocar repertório “tradicional” para clarinete e piano. No entanto, ainda estou a trabalhar nesse campo…

Qual é a vivência mais importante pela qual imaginas que poderias não ter passado, caso tivesses permanecido em Portugal e prosseguido por cá a tua formação?
É difícil responder a esta questão. Ter ido para o estrangeiro foi uma decisão difícil, uma vez que tinha emprego em Portugal. No entanto, era muito novo e não me sentia ainda realizado no clarinete. Sentia-me capaz de fazer mais e precisava de alguém que me ajudasse a acreditar nas minhas capacidades. Penso que ter ido para fora foi uma experiência enriquecedora, pelas experiências e acima de tudo pelo contacto com grandes nomes da música… Se tivesse ficado em Portugal, não sei se iria lograr tudo aquilo que tem acontecido na minha carreira desde então.

Ao longo da tua formação, qual foi o ensinamento mais valioso que guardaste e a que recorres com maior frequência?
Várias vezes, o meu professor disse-me que tenho que ser eu mesmo e ser humilde, bem como respeitar ao máximo o texto que cada partitura apresenta. Recordo inúmeras vezes conversas como esta pois só assim poderei respeitar a música e ser respeitado.

Quais são as maiores diferenças que encontras entre o meio musical espanhol e o português?
Em Espanha existe há muitos anos uma excelente orquestra de jovens, a JONDE. Cada região tem a sua própria orquestra jovem, o país tem muito mais orquestras profissionais e passam por lá os maiores artistas e orquestras mundiais ao longo de cada temporada. Há grandes agências de músicos e isso permite que exista um constante contacto com artistas de topo. Sinto também que não há grandes diferenças entre o nível de instrumentistas de cordas e de sopros. Se repararmos existem músicos espanhóis por toda a parte.
Em Portugal felizmente têm aparecido bons projectos como a JOP e o EGO e, nos últimos anos, têm acontecido grandes feitos com músicos portugueses, no entanto em Espanha eles já vivem esta realidade há muito tempo.
É meu desejo que este estímulo continue para que a nossa nacionalidade e o nosso país passem a ser mais respeitados.

Consideras que os países da península Ibérica estão irremediavelmente de costas voltadas um para o outro ou acreditas que um maior intercâmbio é uma forte possibilidade ainda durante as nossas vidas?
Não acredito que haja grandes mudanças nesse campo, uma vez que os espanhóis são muito nacionalistas. Exemplo disso é que imensos professores espanhóis vêm cá a Portugal dar masterclasses e o inverso é mais raro acontecer. Não existe grande intercâmbio de orquestras, portanto acredito que não aconteçam grandes mudanças.

Com a Orquestra XXI, vais apresentar a estreia em Portugal da versão para Clarinete e Orquestra de Luciano Berio da Primeira Sonata para Clarinete e Piano de J. Brahms. Já tocaste a sonata na sua versão original? Como encaras este desafio de apresentar uma peça de música de câmara num contexto concertante?
Esta sonata está muito ligada à minha pequena carreira de clarinetista, uma vez que já a toquei em público várias vezes. Esta oportunidade com a Orquestra XXI será fantástica pois, para além da admiração que tenho pelo projecto, existe uma grande energia positiva em torno desta orquestra. Há uma grande partilha de conhecimentos e creio que isso irá ser muito interessante de vivenciar junto dos músicos e do maestro.
Por outro lado, não irei apresentar um concerto, este arranjo de Berio permite explorar diversas sonoridades e timbres num contexto conjunto o que me faz sentir inserido na orquestra e não como protagonista. Estou ansioso para que se iniciem os ensaios.

Tens colaborado com a Orquestra XXI em todos os programas que incluem clarinete e participaste no primeiro recital de solistas da mesma. O que consideras mais interessante neste projecto de jovens músicos portugueses residentes no estrangeiro?
Essencialmente, o que considero mais importante é a grande partilha de conceitos e vivências. É possível notar as diferentes características inerentes a cada “escola” de onde os músicos vêm. Transportar tudo isso para o palco, torna este projecto muito especial e único. No que diz respeito a música de câmara, foi muito enriquecedor poder partilhar o palco com músicos como a Adriana e o Dinis.

agosto 2015