Menu Fechar

Cândido Lima

Nascido na região de Viana do Castelo, Cândido Lima (1939) iniciou os seus estudos gerais e musicais em Braga. Em 1963 ingressa no conservatório desta cidade e, um ano depois, é admitido no conservatório de Lisboa, tendo obtido os diplomas dos Cursos Superiores de Piano e de Composição dos Conservatórios de Lisboa e Porto, e de Filosofia na Faculdade de Filosofia de Braga, entre 1968 e 1973.
Doutorou-se em Estética pela Universidade de Paris I – Sorbonne. Durante vários anos estudou em privado e no Instituto de Estética e Ciências da Arte, Sorbonne, com o compositor Iannis Xenakis. Frequentou vários cursos internacionais em Portugal, Espanha, Holanda, Alemanha e França. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura de 1975 a 1978.
Escreveu obras para orquestra, agrupamentos de câmara, coro, teatro, electrónica, electroacústica e por computador, sendo a sua música tocada em diversos países. Escreveu ainda numerosos ensaios, tendo vindo a realizar conferências e seminários dentro e fora do país.
Fundou o Grupo Música Nova (1973) e participou em reformas do ensino da Música. Tem colaborado com a Rádio e a Televisão, desde 1963, enquanto pianista, compositor, autor e apresentador, criando para a RTP várias séries de programas: “Sons e Mitos”, “Fronteiras da Música”, “No ventre da Música”.
Foi professor de Composição na Escola Superior de Música do Porto e foi o primeiro compositor português a abordar a informática musical nas Universidades de Paris II e Paris VII, bem como a utilizar o computador em composição musical.
Prossegue estudos pessoais sobre meios audiovisuais em trabalhos teóricos, técnicos e de composição, relacionados com aspectos de Filosofia, Antropologia e das teorias e técnicas da comunicação.
É professor investigador no INET-MD, da Universidade Nova, Núcleo da Universidade de Aveiro.

(última actualização do resumo biográfico: 2014)
 

Candido Lima-Viana

[versão detalhada]
Cândido Lima: compositor, pianista, organista, professor, cronista, crítico, divulgador, ensaísta, conferencista.

Natural de Viana do Castelo, fez os estudos liceais em Braga (1953/61). Foi organista da Sé Catedral de Braga entre 1958 e 1962. Estreou-se na rádio e na televisão em 1963 e 1964, com Fernando Serafim e Ivete Centeno, a convite do Dr Eduardo Freitas da Costa (sobrinho e afilhado de Fernando Pessoa) e de Filipe de Sousa, assistente musical da RTP, com as obras Dança exótica e Três obras para voz e piano sobre poemas de Sebastião da Gama (dos 4 Poemas Impressionistas, Edições Fermata).

Cumpriu serviço militar, como oficial miliciano, em Mafra, Lisboa, Estremoz e Guiné, na ilha de Bolama, entre 1965 e 1968, tendo prosseguido, não obstante a situação de guerra do outro lado do canal, trabalhos como pianista e como compositor, dando aulas de canto coral e de ginástica, fora das horas de serviço militar, na Escola de Regentes de Posto (Escola de Magistério Primário – 13 das 16 Canções para a Juventude foram escritas para esta Escola, em1967), dando ainda lições de piano e de teoria musical, no quartel e no hotel, a duas crianças e a uma professora primária (hoje, uma das crianças, professora no Algarve, o irmão em Trás-os-Montes). Preparou ainda, em 1967, um grupo de fuzileiros para exames da disciplina de português do 2º ciclo. Por subscrição pública, fez vir um harmónio de Itália para a igreja da ilha. Em 1973, orientou uma Acção de Formação dos novos programas da Experiência Pedagógica/Veiga Simão na Academia de Música de Luanda, a convite de Constança Capdeville (autora do novo Programa de Formação Musical), de Madalena Perdigão e da Fundação Calouste Gulbenkian.
Regressado em 1968, e libertado do serviço militar, matriculou-se na Faculdade de Filosofia, estudando durante 5 anos clássicos e contemporâneos, em domínios das letras, da filosofia e das ciências, nascendo aqui a sua curiosidade pela música e pelo pensamento de Xenakis. Foi entretanto convidado a ensinar composiçãoo no Conservatório Regional de Braga e no Conservatório de Música do Porto.

Diplomou-se em  Piano e Composição pelos Conservatórios de Lisboa e Porto. Doutorado pela Universidade de Paris I (1975/83), e no quadro de um Doctorat d’État pelas Universidades de Paris I e Paris IV (1983/2000), realizou estudos sobre luz, côr e imagem em composição musical, sobre audiovisuais e televisão e o compositor, sob a orientação de Iannis Xenakis e Michel Guiomar (4 volumes de textos, três inéditos). Frequentou cursos em Portugal, Espanha, Holanda (Bilthoven/Gaudeamus,1973), Alemanha (Darmstadt e Bayreuth – em Bayreuth: electroacústica, 1974) e França, entre outros países, com Nadia Boulanger, Aloys e Alphonse Kontarsky, Gerard Frémy, Claude Helffer, Stockhausen, Kagel, Ligeti, Posseur, Boulez e Xenakis, mantendo com este compositor contactos desde 1972 até à sua morte, em 2001. Estudou análise e direcção de orquestra com Gilbert Amy e Michel Tabachnik, em Paris e em Metz, com contactos, em ensaios, com as Orquestras de Paris e de Metz. De passagem por Paris, assitiu à primeira audição francesa da ópera Moisés e Aarão, de Schoenberg, dirigida por Gyorgy Solti, no Teatro de Ópera de Paris (Palais Garnier).
Frequentou estágios e cursos de música electrónica, informática e informática musical nas Universidades de Paris VIII (Vincennes), Paris I (Sorbonne) e Paris II (Pantéon-Sorbonne) (1975/1978), no CEMAMu, em 1978 e anos seguintes, assim como no IRCAM (1981/1992). Foi bolseiro, durante anos, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura e, ainda, dos Cursos Internacionais de Santiago de Compostela (1969).

Colabora nas Enciclopédias das Edições Verbo desde 1972, com artigos tais como harmonia, dodecafonismo, serialismo, música automática, música aleatória, música estocástica, Schoenberg, Xenakis, entre dezenas de outros temas. Escreveu para o Correio do Minho, Diário do Minho de Braga (anos 60 e 70) e para Jornal de Notícias do Porto (1982/1992). Criou para a televisão e para a rádio, na década de 80, séries de programas. Foi presidente da Juventude Musical de Braga. Foi animador e apresentador de temporadas de concertos da J. M. de Braga e do Porto, da Pró-Arte, do Círculo de Cultura Musical e de outras associações e instituições do Norte, além de ter apresentado séries de concertos comentados no Instituto Francês do Porto (Introdução à Mùsica Contemporânea, com registos audiovisuais do IRCAM), na Secretaria de Estado da Cultura (“Janelas sobre o Novo Século”, 1984), na Casa de Serralves (obras e concertos para exposições de Vieira da Silva e de Tapiès, entre outros eventos). Foi director artístico das Semanas de Música de Viana do Castelo (1987/79). Foi director e membro das direcções dos Conservatórios de Música de Braga (1972/73) e do Porto (1974/75). Foi Professor Coordenador da Escola Superior de Música do Porto, entre 1986 e 2000.

Ensinou no Liceu Sá de Miranda (Braga) e nos Conservatórios de Coimbra e de Aveiro, onde realizou diversas séries de animação musical – Serões Musicais de Sextas-Feiras, nos anos 80. Foi Director Artístico do Orfeon Académico de Coimbra, entre 1973 e 1975. Participou nas Reformas do Ensino da Música das décadas de 70, 80 e 90, introduzindo nos programas novos conteúdos interdisciplinares, das músicas, das artes e das ciências. É autor do programa de Composição da Escola Superior de Música do Porto de 1986 a 2001. Fundou, em 1973, o Grupo Música Nova, tendo apresentado pela primeira vez em Portugal compositores como Wilfried Jentzsch, Jean-Baptiste Barrière, Kaija Saariaho e Pascal Dusapin, ou instrumentistas como Stefano Scodanibbio. Entre outros compositores trazidos ao Norte, destaca-se a vinda de Xenakis, em Junho de 1973, para o memorável “Encontro com Xenakis” no Cinema Trindade, que, como Presidente da Juventude Musical de Braga, o convidou durante o Festival de La Rochelle desse ano. Trouxe ou colaborou na vinda a Portugal, ao Porto e a Lisboa, Centros de Tecnologia e Engenharia Musical como o UPIC-CEMAMu e o IRCAM-Centre Georges Pompidou. Criou o movimento de viagens de estudo aos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea, que tinham o patrocínio da própria Fundação Gulbenkian através dos seus Serviços de Música, movimento de décadas iniciado em 1973 com a viagem a Lisboa de estudantes dos Conservatórios e outras escolas de Braga, Aveiro e Porto (aqui também com a comparticipação das escolas e das famílias), para assistir às Jornadas Xenakis e à estreia, em Portugal, do Orfeu de Monteverdi.

É autor da gravação da defesa de tese de “Doctorat d’État” de Xenakis, na Sorbonne (1977), de onde foi transcrito o livro com o título Arts/Sciences-Alliages, editado pelas Edições Stock, Paris.

Como compositor, escreveu obras de música de câmara, orquestra, coro e orquestra, coro, instrumentos solo, para voz e instrumentos, música para teatro, música electrónica, electroacústica e por computador, apresentadas em países dos vários continentes: Portugal, Guiné, Angola, Alemanha, Coreia, França, Espanha, Dinamarca, Holanda, Suécia, Argentina, Brasil, Estados Unidos da América, Bélgica, México, Suíça, com conferências em alguns deles -Festival de Zurique, com as obras Meteoritos e Oceanos, e a obra selecionada para os World New Music Days, NCÁÃNCÔA, para clarinetes(s), 2004- entre outros países.

Recebeu numerosas encomendas da Fundação Calouste Gulbenkian e ainda de instituições como a Academia de Música de Viana do Castelo, da ARTAVE-Santo Tirso, do Festival Internacionai do Estoril, da Póvoa de Varzim e de Coimbra, da Casa da Música – Remix Ensemble, da Miso-Music, do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, do Concurso Internacional de Piano da Cidade do Porto, entre outras. As obras OCEANOS e A-MÈR-ES (encomenda da Fundação Gulbenkian, por proposta, em Paris, de Xenakis, e a ele dedicada, como é OCEANOS), compostas entre 1978 e 1979, introduzem, pela primeira vez na música portuguesa e na orquestra, meios informáticos e meios electroacústicos. Ambas foram estreadas em 1979, no Rivoli, pela Orquestra Sinfónica do Porto, dirigida por Gunther Arglebe e pelo Coro Música Viva (com balões como percussão e cantos de SOLEILS), e no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, pela Orquestra Gulbenkian, dirigida por Michel Tabachnik. A-MÈR-ES foi objecto de nova execução pela Orquestra Gulbenkian em 1979, com a reconstituição e digitalização da partitura por Aura Reis e Pedro Amaral, e remasterização da electrónica por Miguel Azguime, com direção de Pedro Amaral. OCEANOS teve um grande destaque, na Tribuna Internacional de Compositores da UNESCO em Paris (1985), seleccionada pela RDP como representante de Portugal, “considerada superior às representantes dos Estado-Unidos e da França”.
“O compositor fala da sua obra”, em 1981, no edifício antigo da Câmara de Matosinhos, a convite do Dr. Manuel Dias da Fonseca- Vereador do Pelouro da Cultura- foi a primeira de muitas colaborações marcantes na cidade, como analista, compositor e pianista, e a primeira abordagem pública, sob esta forma, do seu trabalho de compositor.

Participou, enquanto pianista, compositor ou maestro (Grupo Música Nova, Orquestra Gulbenkian e Grupo de Música Contemporânea de Lisboa) e conferencista (sobre Ligeti, Xenakis, UPIC-CEMAMU, IRCAM, entre outros temas), durante anos, nos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea e no Dia Europeu da Música do Centro de Arte Moderna – ACARTE, a convite de Madalena Perdigão. Formou, nas décadas de 60 e 70 um duo com o tenor Fernando Serafim, em concertos, na telavisão e na rádio, divulgando clássicos, música portuguesa e as suas próprias obras.

A imprensa portuguesa e estrangeira tem destacado e elogiado a sua obra de compositor, de instrumentista e de divulgador, incluindo a crítica de televisão, que sublinhou a qualidade e o ineditismo das suas séries de televisão na década de 80: “Sons e Mitos” (1978-79), “Fronteiras da Música” (1982), “No ventre da Música” (1983), “Evocações” (ABZ de Júlio Montenegro, 1987), e na RDP, “De toda a Música” (Programa da Manhã de Júlio Montenegro, 1986). Nestas séries foram pela primeira vez apresentadas diversas correntes e movimentos da música contemporânea, em convívio com os clássicos e românticos. Apresentou ainda a série “Conheça Melhor”, comentando documentos audiovisuais sobre etnomusicologia, da Suécia à Coreia, enviados pelas embaixadas (1983).

Tem escrito com regularidade sobre assuntos diversos da música. Tem publicados em livro ensaios e trabalhos teóricos seus de diversa índole, destacando-se da sua produção os trabalhos “A Música e o Homem na Reforma do Ensino – da Antiguidade à Vanguarda” (Música em Esquemas, título original)- Editora Pax, Braga- e “Origens e Segredos da Música Contemporânea – Música em som e imagem”- Edições Politema, Instituto Politécnico do Porto- “Arquétipos em Composição Musical” (inédito). Escreveu, para a Câmara de Matosinhos, textos sobre o Neoclassicismo e o Impressionismo, assim como breves ensaios sobre o Romantismo e sobre as integrais de Sonatas para Piano de Beethoven, Mozart e Schubert, escritos à luz da musicologia contemporânea. Aguardam publicação entrevistas realizadas com Iannis Xenakis, Gyorgy Ligeti e Pierre Boulez (1982/97).

Tem numerosas obras editadas em disco, para várias formações instrumentais, além de músicas mistas e música electrónica, electroacústica e por computador, por intérpretes e agrupamentos como o Sond’Ar-te, Performa Ensemble, Nuno Pinto e Miguel Azguime, entre outros, destacando-se três CDs monográficos pela Secretaria de Estado da Cultura (1984), Câmara de Matosinhos (2001) e Grupo Música Nova (Numérica, 2013)- este último intitulado “Para além das árvores – Músicas em espelho”.

Em 2006, o Centro Português Calouste Gulbenkian de Paris levou a efeito um concerto com obras de Cândido Lima e de Pascal Dusapin, com a presença de ambos os compositores, tendo como intérpretes o Grupo Música Nova (Porto) e o Ensemble Accroche-Note (Estrasburgo). Em 1995, Pascal Dusapin havia-lhe a obra Canto, sobre poema de Leopardi (mais tarde Cândido Lima dedicou-lhe a obra sobre Canto a Leopardi, poema de Fernando Pessoa).
Em 2009, foi estreada a sua obra MÚSICAS DE VILLAIANA – coros oceânicos, para orquestra (lendo também texto de foral), coro, electroacústica, audiovisuais, narrador, rapper e público (uso de telecomunicações, entre as quais, o telemóvel), resultante de uma encomenda da Câmara Municipal de Viana do Castelo, por ocasião dos 750 anos do Foral. No mesmo ano, o Festival Música Viva dedicou-lhe diversos concertos (11 obras).

Entre as suas últimas obras encontram-se Variações à Volta do Sol – 10 birthdays cards, para piano, estreadas em 2013 na classe da Professora Dina Resende do Conservatório de Música do Porto, incluindo no mesmo programa a versão para piano das 16 Canções para a Juventude, Cadernos de Invenções – sons para descobrir – títulos para inventar (80 cadernos de 10 pequenas peças para todos os instrumentos, já em edição on-line da Miso Music), Fado Hilário Revisitado, para coro masculino e piano (encomenda do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra), Cantos das Fragas-bandolins, violas e violões, para violino, violoncelo, guitarra e piano (encomenda do Performa Ensemble de Aveiro, ambas com o fado como temática) e, mais recente, Novas Obras Infantis, para piano, ÉCORI-memórias de um clarinete, para clarinete, contrabaixo e piano, e nova versão de Momentos-Memórias II, para cordas, guitarra portuguesa e guitarra clássica, programada para um Festival na Polónia que destaca obras contempoânea para instrumentos de tradição popular.

Compôs e estreou este ano, na Casa Fernando Pessoa (Lisboa), a obra Paráfrase e Variações sobre Lettera Amorosa de Monteverdi, para piano, como cenário à volta do livro de poesia de Lettera Amorosa de Maria João Fernandes, que o apresentou, entre outros convidados, e de René Char.

A Revista Glosas dedicou-lhe o Nº10, editado em 2013, que incluiu um texto de Mário Cláudio escrito expressamente para o compositor.
O Atelier de Composição prepara a edição de muitos dos seus escritos.
MPMP prepara também a publicação de algumas partituras, e as Edições AVA acabam de editar a obra para orquestra MANTA.
A MISO MUSIC (Mic.pt) dedicou-lhe o “Em Foco” do mês de Dezembro e o primeiro programa da série para a Antena 2 “Música Hoje”.

Nos Dias da Música Electroacústica (DME), de Seia, participou em concertos e colóquios com obras suas e de Ângela Lopes, incluindo “Diálogos com o público” com Cândido Lima, Ângela Lopes e as intérpretes- a violinista Suzanna Lidegran e a pianista Ana Telles (que prepara um ensaio sobre a obra para piano do compositor), figurando no mesmo programa a versão com dança da obra electroacústica MOMENTO-PAISAGEM, pela balarina coreana Chung Ji Hye.

Tem colaborado em projectos doutorais, integrando júris também, da Faculdade de Belas Artes, da Escola Superior de Jornalismo, da Universidade Católica e da Universidade do Porto (Faculdade de Letras).
Tem também mantido contactos individuais e com classes de composição ou de instrumento em Escolas e Academias de Música, como Fafe, Vila Nova de Gaia (Academia de Vilar do Paraíso), Santa Maria da Feira, Viseu, Porto (ESMAE e Conservatório de Música).
É professor investigador no INET-MD, da Universidade Nova, Núcleo da Universidade de Aveiro.

(última actualização: 2014)