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A_S 2020 [c05] La Lontananza

Quinta-feira, 3 de Setembro | 22h00
Claustro da Igreja da Misericórdia

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André Gaio Pereira <violino>
Ricardo Guerreiro <projecção sonora>
Pedro Fonseca <iluminação>

Luigi Nono (1924 – 1990) | La Lontananza Nostalgica Utopica Futura. Madrigale per più “caminantes” con Gidon Kremer [1988/89]
para violino e 8 pistas de áudio

A obra ilustra a colaboração criativa estabelecida entre Luigi Nono e Gidon Kremer, após o primeiro encontro que tiveram, em 1987. Esta colaboração foi desenvolvida e materializada em conjunto, numa primeira fase, durante três dias de gravações realizadas no Estúdio Experimental da Rádio do Sudoeste, da Fundação Heinrich Strobel, em Friburgo. O material improvisado por Kremer permitira a Nono produzir, no final de Junho de 1988, a parte electrónica, com uma duração de cerca de uma hora, bem como escrever a parte do violino. A partitura, dedicada a Salvatore Sciarrino, “caminhante exemplar”, tem uma data de finalização (31/01/1989) posterior à data de estreia da obra (03/09/1988), o que reflecte as várias revisões operadas até à versão actual. Os diferentes fragmentos que compõem esta partitura seriam depois utilizados pelo compositor na escrita da sua última obra, o duo de violinos “Hay que caminar soñando” (1989), composta integralmente por novas combinações do mesmo material. A arte da combinação era nesta fase muito cara ao compositor. Ao vivo, os músicos (violino e electrónica) são chamados a decidir, a escolher. Nono adverte: “em alguma circunstância La Lontananza poderá ser tratada como um concerto para solista e acompanhamento”. O percurso do violinista é incerto, desenhado entre as estantes que apoiam as seis secções que estruturam a partitura e que estão espalhadas livremente pelo espaço. Incerto é também qual o som e quando sairá de cada um dos 8 altifalantes. A construção de índole fragmentária deverá ser assumida pelos músicos e pela encenação do espaço em que actuam.

A escrita introduz continuamente sinais de suspensão, respiração e pausa. Os fragmentos são, ao vivo, colocados em interacção tensional: choque, surpresa, confronto. Uma coexistência de diferentes possibilidades, de trilhos percorridos por diferentes presenças. Memórias representadas nas 8 pistas de áudio como vozes de outros caminhantes. Vozes que espelham memórias, que se escutam como sinais circundantes, errantes, à solta. Nono relembrava a frase de Scriabine: “o silêncio é também som”. São vozes de madrigais que se unem ao som acústico do violino wanderer. Que vozes se escutam é algo que resulta diferente a cada performação. As escolhas deverão ser tomadas “por afinidades electivas”, segundo o próprio Nono. Infinitas possibilidades expressivas, próprias da tradição do género madrigal.
R. G.